quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Diálogo do nada

"Fala você então do que é Isso.

"Não sei não, contar é difícil pra quem viveu.

"Não quer dizer do que foi?
Talvez seja melhor espalhar o que tá junto na alma.

"Fica preso assim com nó de não acabar nunca a dor.

”Então me diga uma palavra. De onde pode vir tudo Isso que você sente, onde a gente possa entrar e se abraçar junto

"O problema é achar Isso que se chama.

"A gente vai longe demais. De Tudo.

”Voltar é que é difícil. Pra Onde?

"Faz assim: chora, pra ver se acontece de livrar da coisa.

"Não dá pra expulsar o que é da gente assim.

”Por quê? Deixa a lágrima lavar a pele.

"Seria bom mesmo. Antes de eu parar, quem sabe Isso entra de vez.

"Então esfrega e vê no que dá. Mas cuidado hein, não vá arrancar a ferida, pode doer sem chance de se agüentar vivo.

"Já esfregou alguma vez a cicatriz?

"Já, resolveu daquelas que nunca mais ficaram vermelhas. Amoleceram feito molduras onde se guarda Nada.

"Sei... nunca mais doeram?

”Não é bem assim, só você fazendo. Não tem receita não, é caso particular de cada um. Pense sempre que há um risco em destruir as camadas todas... Esperei que essa cor, esse vento, esse sempre fosse me visitar todos os dias. E hoje a insônia ocupa a fresta estreita alucinada noite adentro.

“É, Isso faz a gente se perder.

"No meio, a vida engasgada vai-se ao longe. E percorre juntando tudo. E Isso faz a gente se encontrar. E percorre juntando tudo, caindo o sobressalto, furtando o ruído, o encanto
E Isso faz a gente ruir de alegria. Vai-se ao longe a imagem do homem entre pernas finas de andar. Isso. Pernas, andar. Isso que anda sobre as pernas e entra nelas.

"Vai-se à vida a própria vida. Bastarda e insinuante, sedutora, precipício de amores. Levando por aí as palavras, levantando os mortos.

"Que vem nos matar?

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